Dia Mundial da Obesidade: repensando a saúde e os desafios do futuro

Dia Mundial da Obesidade: repensando a saúde e os desafios do futuro

Se tem um assunto que nunca sai de pauta, é a obesidade. Mas muita gente ainda enxerga a condição de forma simplista, resumindo tudo a peso e força de vontade. A realidade é bem diferente.

O Dia Mundial da Obesidade de 2025 traz uma provocação necessária: precisamos parar de responsabilizar apenas o indivíduo e olhar para os sistemas que impactam a saúde de milhões de pessoas. O acesso à alimentação equilibrada, as políticas públicas, as condições de trabalho e até a forma como a obesidade é diagnosticada influenciam diretamente esse cenário.

E por falar em diagnóstico, esse é um ponto de virada importante: um novo relatório publicado na revista The Lancet propõe uma abordagem mais detalhada, para além do IMC (índice de massa corporal), diferenciando obesidade pré-clínica e obesidade clínica para direcionar tratamentos mais assertivos e reduzir o estigma que muitas pessoas enfrentam.

O impacto da obesidade no mundo

A obesidade não é um problema isolado. De acordo com dados do World Obesity Day, nos próximos anos, o número de pessoas vivendo com essa condição continuará crescendo, trazendo desafios para a saúde pública e para a qualidade de vida de milhões de pessoas. Segundo estimativas recentes:

  • Até 2035, cerca de 1,9 bilhão de pessoas terão obesidade.
  • 1 em cada 4 pessoas será diagnosticada com obesidade até essa data.
  • O número de crianças com obesidade dobrará entre 2020 e 2035.
  • O impacto econômico global da obesidade pode chegar a US$ 4,32 trilhões, um valor comparável ao impacto de grandes crises econômicas.

Na prática, esses números significam que a obesidade está diretamente relacionada ao aumento de casos de diabetes tipo 2, doenças cardiovasculares, hipertensão e até alguns tipos de câncer. Ou seja, quanto mais a obesidade avança, maior o risco de complicações que afetam a saúde e a longevidade da população.

Olhando para essa realidade, fica evidente que não basta falar apenas sobre perda de peso – é preciso investir em medidas que ajudem a prevenir e tratar a obesidade de maneira mais eficiente. Isso inclui mudanças no acesso à informação, na forma como os alimentos são produzidos e comercializados, e no apoio à saúde das pessoas que vivem com obesidade.

Dia Mundial da Obesidade - Obesidade Infantil

Obesidade clínica: uma nova forma de enxergar a doença

A obesidade sempre foi medida principalmente pelo Índice de Massa Corporal (IMC), mas especialistas alertam que essa abordagem pode não ser suficiente para avaliar corretamente os impactos da obesidade na saúde. Um estudo publicado em janeiro de 2025 no The Lancet Diabetes & Endocrinology propõe uma nova forma de definir e diagnosticar a obesidade clínica, levando em conta não apenas o excesso de peso, mas também os danos que ele pode causar ao funcionamento dos órgãos e tecidos do corpo.

A diferença entre obesidade pré-clínica e obesidade clínica

Os pesquisadores diferenciaram dois tipos de obesidade:

  1. Obesidade pré-clínica: é quando a pessoa tem excesso de gordura corporal, mas sem prejuízos evidentes para os órgãos ou sistemas do corpo. No entanto, esse quadro pode aumentar o risco de desenvolver doenças como diabetes tipo 2, problemas cardiovasculares e até certos tipos de câncer.
  2. Obesidade clínica: ocorre quando o excesso de gordura corporal já compromete o funcionamento de órgãos e tecidos, podendo levar a doenças graves, como infarto, AVC e insuficiência renal. Nesse caso, o impacto da obesidade já é visível na saúde do indivíduo.

Como diagnosticar a obesidade clínica?

O estudo sugere que o IMC não deve ser usado isoladamente para definir se uma pessoa tem obesidade ou não. Em vez disso, os especialistas recomendam uma avaliação mais detalhada, que pode incluir:

  • Medidas mais precisas da gordura corporal (como circunferência da cintura, relação cintura-quadril e razão cintura-altura).
  • Identificação de sinais de que a obesidade já compromete a função de órgãos e tecidos (exames laboratoriais, sintomas e impacto na qualidade de vida).
  • Avaliação das limitações na rotina da pessoa devido à obesidade, como dificuldades de mobilidade e realização de tarefas básicas do dia a dia.

Para casos de obesidade mais severa (IMC acima de 40 kg/m²), o diagnóstico pode ser feito sem necessidade de exames adicionais, pois o excesso de gordura já é evidente.

Qual é a importância dessa nova definição?

A redefinição da obesidade como uma doença crônica que compromete o funcionamento do corpo tem um impacto importante na forma como a condição deve ser tratada. O estudo reforça que:

  • Pessoas com obesidade clínica precisam de tratamento adequado e baseado em evidências, com o objetivo de melhorar ou até reverter os impactos da obesidade na saúde.
  • Indivíduos com obesidade pré-clínica devem ser acompanhados de perto, com orientações para evitar a progressão da condição para a obesidade clínica.
  • Políticas públicas devem garantir acesso equitativo ao tratamento, sem basear estratégias apenas na responsabilização individual.
  • O estigma e o preconceito contra pessoas com obesidade são grandes obstáculos no tratamento e devem ser combatidos por meio da educação dos profissionais de saúde e da sociedade.

O que essa mudança significa para a saúde pública?

A nova definição da obesidade pode transformar a maneira como a condição é tratada, tornando os diagnósticos mais precisos e os tratamentos mais eficazes. Além disso, reforça a necessidade de abordar a obesidade como uma questão de saúde coletiva, e não apenas como um problema individual. O estudo foi amplamente aceito por especialistas, com 76 organizações científicas e grupos de apoio ao redor do mundo endossando suas recomendações.

O que pode ser feito para enfrentar a obesidade?

Durante muito tempo, a obesidade foi tratada como um problema individual, associado apenas a hábitos e escolhas pessoais. No entanto, essa visão é limitada e não abrange a complexidade da doença. A obesidade é influenciada por múltiplos fatores, incluindo genética, ambiente, acesso à alimentação saudável, estresse, sono inadequado e até políticas públicas. Para combatê-la é necessário agir em diferentes frentes.

Mudanças estruturais são fundamentais

Em muitos lugares, alimentos ultraprocessados e ricos em açúcar são mais baratos e acessíveis do que opções naturais e nutritivas. Ambientes urbanos sem infraestrutura adequada também reduzem a possibilidade de atividades físicas regulares. Diante disso, governos e instituições de saúde precisam criar políticas que incentivem escolhas mais saudáveis, como:

  • Melhorar o acesso a alimentos naturais e equilibrados, tornando-os financeiramente viáveis para a população.
  • Criar campanhas educativas sobre nutrição e atividade física desde a infância.
  • Investir em espaços públicos para incentivar a prática de exercícios e a mobilidade ativa.
  • Garantir que o tratamento para obesidade seja acessível a todos, sem estigma ou discriminação.

O papel dos profissionais de saúde

Médicos, nutricionistas, psicólogos e educadores físicos são indispensáveis no diagnóstico e tratamento da obesidade. Uma das maiores barreiras é garantir que os pacientes recebam acompanhamento adequado, considerando todos os fatores, como o peso, a saúde metabólica, as condições clínicas e a qualidade de vida.

Isso inclui:

  • Avaliações mais completas que vão além do IMC, levando em conta fatores como composição corporal e exames laboratoriais.
  • Tratamento personalizado, que pode envolver ajustes na alimentação, suplementação, terapia comportamental e, em alguns casos, medicamentos ou cirurgias.
  • Apoio emocional para lidar com questões psicológicas associadas à obesidade, como ansiedade, compulsão alimentar e autoestima.

O que cada pessoa pode fazer?

Embora a obesidade tenha causas multifatoriais, pequenas mudanças no dia a dia podem fazer diferença na saúde geral. O que pode ajudar:

  • Buscar orientação profissional para entender as reais necessidades do seu corpo.
  • Ter um olhar mais atento para a qualidade dos alimentos consumidos, priorizando ingredientes naturais e evitando ultraprocessados.
  • Criar uma rotina de atividade física prazerosa e que você consiga manter, sem a necessidade de treinos exaustivos.
  • Cuidar do sono, que tem impacto direto no metabolismo e na regulação do apetite.
  • Combater a cultura da dieta restritiva, buscando equilíbrio e hábitos saudáveis que possam ser mantidos para a vida.

Isso ajuda a mudar o olhar de que a obesidade pode ser combatida apenas com força de vontade individual e demonstra que ela precisa ser vista como uma questão de saúde pública.

Obesidade é uma questão de saúde, não de culpa

Tratar a obesidade exige ciência, acesso e respeito. Não se trata apenas de escolhas individuais, mas de um problema de saúde pública que precisa ser abordado sem preconceitos.

A Belt Nutrition acredita que informação e suporte adequado fazem a diferença. Há mais de 10 anos nós trabalhamos para oferecer soluções nutricionais que ajudam pessoas a cuidar da saúde de forma prática e baseada em ciência.

No Dia Mundial da Obesidade, reforçamos nosso compromisso com uma abordagem responsável, sem culpabilização. A saúde deve estar ao alcance de todos.

Referências

RUBINO, Francesco et al. Definition and diagnostic criteria of clinical obesity. The Lancet Diabetes & Endocrinology, v. 13, n. 3, p. 221-262, 2025. DOI: 10.1016/S2213-8587(24)00316-4.

WORLD OBESITY DAY. Disponível em: https://www.worldobesityday.org/. Acesso em: 28 fev. 2025.