Reganho de peso pós-cirurgia bariátrica: como a semaglutida pode ajudar

Reganho de peso pós-cirurgia bariátrica: como a semaglutida pode ajudar

A cirurgia bariátrica é um tratamento consolidado para a obesidade grave, capaz de transformar vidas ao favorecer a perda de peso e melhorar uma série de condições associadas, como hipertensão, diabetes tipo 2 e apneia do sono. Para muitas pessoas, representa a possibilidade real de recuperação da saúde e da qualidade de vida.

Ainda assim, mesmo após a cirurgia, é possível que alguns pacientes enfrentem dificuldades para manter o ritmo do emagrecimento ou voltem a ganhar peso com o tempo. Isso não anula os benefícios já conquistados, mas reforça que o tratamento da obesidade exige cuidado contínuo.

Diante disso, estudos recentes têm investigado o uso da semaglutida — um medicamento já aprovado para o tratamento da obesidade — como uma alternativa de suporte para casos de reganho de peso ou estagnação após o procedimento bariátrico, oferecendo uma nova chance de reequilibrar o processo de emagrecimento.

Por que o reganho de peso pode acontecer após a cirurgia bariátrica?

A cirurgia bariátrica oferece importantes benefícios para quem convive com a obesidade grave. Ela reduz o peso corporal de forma significativa e melhora comorbidades que impactam diretamente a saúde do paciente. No entanto, como a obesidade é uma condição crônica e de origem multifatorial, é possível que, mesmo após o procedimento, ocorra um novo aumento de peso ao longo do tempo.

Esse reganho pode estar relacionado a diferentes fatores, que costumam se dividir em três grupos principais:

  • Comportamentais: mudanças nos hábitos alimentares, baixo engajamento em atividades físicas e a retomada de padrões antigos de consumo são aspectos que influenciam diretamente o peso corporal após a cirurgia.
  • Fisiológicos: com o tempo, o organismo passa por adaptações. Pode haver, por exemplo, aumento do reservatório gástrico ou alterações na produção de hormônios ligados à saciedade, o que facilita uma ingestão calórica maior.
  • Metabólicos: em alguns casos, o metabolismo pode ficar mais lento após a perda de peso, o que dificulta a manutenção dos resultados, mesmo com esforço e disciplina.

É importante reforçar que passar por esse processo não significa que a cirurgia “deixou de funcionar”. O que ele revela é a complexidade do tratamento da obesidade — uma condição que exige acompanhamento constante, ajustes terapêuticos e, principalmente, cuidado contínuo com o corpo e com a saúde em todas as fases da vida.

O que é a semaglutida e como ela funciona?

A semaglutida é um medicamento da classe dos análogos do GLP-1 (peptídeo semelhante ao glucagon tipo 1), uma substância que o próprio organismo produz e que tem funções importantes no controle do apetite, do metabolismo e da glicose.

Inicialmente indicada para o tratamento do diabetes tipo 2, a semaglutida também demonstrou efeitos consistentes na regulação do peso corporal, ampliando seu uso para o tratamento da obesidade em pacientes com ou sem a doença.

No organismo, sua ação é múltipla e coordenada, atuando em diferentes frentes:

  • Prolongamento da saciedade: ao retardar o esvaziamento do estômago, prolonga a sensação de estômago cheio e reduz o volume de alimento ingerido nas refeições.
  • Modulação do apetite: age em áreas específicas do cérebro relacionadas ao controle da fome e à resposta a estímulos alimentares, diminuindo o impulso por alimentos altamente calóricos.
  • Equilíbrio metabólico: melhora o controle da glicose e contribui para uma resposta metabólica mais eficiente, o que é relevante para quem enfrenta resistência à perda de peso.

O uso da semaglutida representa um avanço no cuidado da obesidade porque atua tanto na biologia da fome quanto nos comportamentos associados à alimentação. Seu efeito é ainda melhor quando combinado a orientações de estilo de vida e acompanhamento profissional, válido para diferentes perfis de pacientes, inclusive aqueles que passaram pela cirurgia bariátrica.

Semaglutida no reganho de peso pós-cirurgia: o que dizem os estudos

A busca por novas alternativas para auxiliar o processo de emagrecimento após a cirurgia bariátrica levou pesquisadores a avaliarem o uso da semaglutida em pacientes que enfrentaram perda de peso insuficiente ou reganho de peso. Esse foi o foco de um estudo publicado em 2022 no periódico Obesity Surgery (clique e tenha acesso à íntegra do estudo).

O estudo investigou especificamente pacientes que não tinham diabetes tipo 2 — um recorte importante, já que o objetivo era analisar o potencial da semaglutida no controle do peso, independentemente da presença da doença.

Como o estudo foi conduzido?

  • Participantes: 44 pessoas que haviam realizado cirurgia bariátrica (sleeve gástrico ou bypass gástrico), mas que apresentavam dificuldades em atingir ou manter a perda de peso esperada.
  • Tratamento: todos receberam aplicações semanais de semaglutida, iniciando com doses menores e ajustando até 0,5 mg.
  • Duração do acompanhamento: até 6 meses, com incentivo simultâneo à adoção de hábitos de vida mais saudáveis, como alimentação equilibrada.

Quais foram os principais resultados?

Os dados obtidos durante o acompanhamento mostraram resultados positivos:

  • Após 3 meses, a perda média de peso foi de aproximadamente 6% do peso corporal inicial.
  • Nesse período, 61% dos participantes conseguiram reduzir mais de 5% do peso.
  • Em 6 meses de uso, a perda média aumentou para 10,3% do peso corporal.
  • 85% dos pacientes atingiram uma perda superior a 5% e 45% perderam mais de 10% do peso inicial.

Algumas observações adicionais chamaram atenção:

  • Mulheres demonstraram melhor resposta ao tratamento, especialmente nos primeiros três meses.
  • O tipo de cirurgia realizada (sleeve ou bypass) não interferiu nos resultados obtidos com o medicamento.
  • Pacientes com níveis alterados de triglicérides ou enzimas hepáticas elevadas apresentaram uma resposta um pouco menos intensa.

O que esses resultados indicam?

Os resultados sugerem que a semaglutida pode ser uma opção viável para apoiar pacientes que, mesmo após a cirurgia bariátrica, encontram dificuldades para manter o emagrecimento. O uso do medicamento mostrou potencial para adiar ou até evitar a necessidade de uma nova intervenção cirúrgica, funcionando como um reforço ao tratamento contínuo.

Limitações do estudo

Apesar dos dados promissores, é importante considerar algumas limitações:

  • O estudo foi retrospectivo, ou seja, analisou dados de pacientes que já haviam sido tratados, sem controle direto das variáveis durante o processo.
  • O número de participantes foi relativamente pequeno para extrapolar os resultados para toda a população bariátrica.
  • Não houve grupo de comparação (pacientes que não receberam semaglutida), o que limita as conclusões sobre o impacto isolado do medicamento.
  • A dose utilizada (0,5 mg por semana) foi inferior àquela atualmente aprovada para o tratamento da obesidade (2,4 mg/semana).

Mesmo com essas limitações, o estudo contribui para o entendimento de que intervenções medicamentosas, como a semaglutida, podem apoiar a manutenção dos resultados da cirurgia bariátrica em casos de dificuldade persistente no controle do peso.

A importância do acompanhamento multidisciplinar após a bariátrica

A cirurgia bariátrica é um passo importante no tratamento da obesidade, mas o acompanhamento de saúde precisa continuar depois da operação para manter os resultados.

Essa atenção precisa ser individualizada e multidisciplinar, respeitando as mudanças físicas, metabólicas e emocionais que ocorrem ao longo do tempo. Entre os pilares desse acompanhamento, estão:

  • Nutrição pós-cirúrgica: ajustar a alimentação à nova realidade do sistema digestivo e prevenir deficiências nutricionais é um cuidado que evolui com o tempo.
  • Suporte psicológico contínuo: lidar com a comida vai além da saciedade — envolve histórico, autoestima, frustração e expectativas. Esse suporte ajuda a manter o foco e a compreender padrões que podem levar ao reganho.
  • Avaliações clínicas periódicas: o monitoramento da saúde metabólica, dos exames laboratoriais e da evolução do peso permite intervenções pontuais e evita retrocessos.

A suplementação continua indispensável no pós-cirurgia — mesmo com o uso de semaglutida

Para quem já passou pela cirurgia bariátrica, o uso da semaglutida pode ser indicado em situações específicas, mediante prescrição médica, como reganho de peso ou dificuldade para continuar emagrecendo. Nesses casos, o cuidado com a nutrição precisa ser ainda mais atento.

A combinação entre a cirurgia — que reduz a absorção de nutrientes — e a perda de apetite provocada pela medicação pode aumentar o risco de deficiências importantes. Vitaminas e minerais como B12, ferro, cálcio, vitamina D e zinco precisam ser monitorados e repostos com regularidade.

A Belt Nutrition oferece duas linhas de suplementação, que atendem necessidades diferentes:

  • Linha Belt Bariatric: formulada para pessoas que fizeram cirurgia bariátrica, com dosagens específicas, alta biodisponibilidade e formatos adaptados ao pós-operatório.
  • Linha Multi: voltada ao público geral, incluindo quem utiliza canetas emagrecedoras, mas não passou por cirurgia.

Ambas as linhas são seguras e completas, mas quem fez bariátrica enfrenta questões de absorção que exigem um olhar mais específico. Por isso, a recomendação profissional é fundamental para indicar o suplemento mais adequado em cada fase do tratamento.

Manter os resultados também faz parte do tratamento

O reganho de peso após a cirurgia bariátrica não deve ser visto como um fracasso, mas como parte da realidade de um tratamento que exige cuidados contínuos ao longo da vida. A boa notícia é que hoje existem alternativas que podem apoiar esse processo, como a semaglutida, que tem mostrado resultados positivos para quem enfrenta dificuldades no pós-operatório.

Se você está passando por essa situação, procure um médico especialista para uma avaliação individualizada. O acompanhamento profissional permite avaliar causas, identificar riscos e propor condutas seguras — sempre considerando as necessidades específicas de quem já passou pela cirurgia. O cuidado com a saúde continua, e deve seguir com responsabilidade, atenção e suporte adequado em cada fase do tratamento.

Referências

Lautenbach A, Wernecke M, Huber TB, Stoll F, Wagner J, Meyhöfer SM, Meyhöfer S, Aberle J. The Potential of Semaglutide Once-Weekly in Patients Without Type 2 Diabetes with Weight Regain or Insufficient Weight Loss After Bariatric Surgery-a Retrospective Analysis. Obes Surg. 2022 Oct;32(10):3280-3288. doi: 10.1007/s11695-022-06211-9. Epub 2022 Jul 25. PMID: 35879524; PMCID: PMC9532334.