Volta às aulas e Obesidade Infantil: como a rotina escolar influencia a saúde das crianças

A volta às aulas reorganiza a rotina das crianças e, junto com ela, os hábitos alimentares e o nível de atividade física. Entre a lancheira, a merenda da escola e o tempo de tela após os estudos, muitas escolhas diárias impactam diretamente a saúde infantil. A obesidade infantil não acontece de um dia para o outro e não tem uma única causa, mas é resultado de um conjunto de fatores que podem ser observados e ajustados com o tempo.
A infância é um período de aprendizado e construção de hábitos que podem durar para a vida toda. Pequenos ajustes na alimentação e no estilo de vida ajudam a criar um ambiente mais saudável e equilibrado para as crianças. Esse é um compromisso coletivo que envolve pais, educadores e a própria sociedade.
O que seus filhos estão comendo na escola e em casa? Como a rotina pode favorecer escolhas mais nutritivas? O momento da volta às aulas é uma oportunidade para refletir sobre isso e fazer mudanças que contribuam para o bem-estar das crianças.
O impacto da obesidade infantil na saúde e no aprendizado
A obesidade infantil tem aumentado em ritmo acelerado no Brasil e no mundo. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o número de crianças com excesso de peso mais que triplicou nas últimas décadas, tornando-se um dos desafios de saúde pública mais urgentes. No Brasil, o Ministério da Saúde alerta que uma em cada três crianças entre 5 e 9 anos está acima do peso, um reflexo de mudanças no estilo de vida, na alimentação e no nível de atividade física.
Além das implicações para a saúde, a obesidade infantil afeta diretamente o desenvolvimento e o bem-estar das crianças. O excesso de peso pode levar a alterações metabólicas, como resistência à insulina, maior risco de diabetes tipo 2, colesterol alto e problemas cardiovasculares.
Além dos impactos físicos, a obesidade também influencia aspectos emocionais e sociais. Crianças com sobrepeso são mais propensas a sofrer com baixa autoestima, dificuldades de socialização e até mesmo bullying, o que pode comprometer o bem-estar psicológico e a relação com o ambiente escolar. Estudos indicam que a qualidade da alimentação e a prática de atividades físicas estão diretamente ligadas ao desempenho escolar, influenciando a atenção, a memória e a disposição para as tarefas do dia a dia.
Outro fator importante é a influência do ambiente onde a criança está inserida. O acesso à alimentação saudável varia de acordo com a região e a estrutura das escolas. Algumas oferecem refeições equilibradas, enquanto outras não possuem políticas nutricionais bem definidas. O tempo disponível para recreação e atividades físicas também faz diferença: escolas com menos espaço para brincadeiras e esportes podem contribuir para um estilo de vida mais sedentário.
Como a rotina escolar influencia a obesidade infantil?
A escola faz parte do dia a dia das crianças e influencia muito mais do que o aprendizado. A alimentação, o tempo de movimento e até o sono podem ser impactados pela rotina escolar, e tudo isso se reflete diretamente na saúde. Quando os dias são marcados por lanches pouco nutritivos, longas horas sentadas e pouco espaço para brincadeiras, o risco de ganho de peso aumenta.
O que as crianças estão comendo na escola?
Entre a merenda oferecida na escola e os lanches enviados de casa, nem sempre as escolhas são as melhores. Cantinas recheadas de salgadinhos, doces e refrigerantes facilitam o consumo de ultraprocessados, enquanto a lancheira, muitas vezes, acaba preenchida por opções rápidas e práticas, mas pouco nutritivas. Alimentos com excesso de açúcar e gorduras afetam o peso, a energia e a concentração ao longo do dia.
Por outro lado, quando a alimentação escolar é equilibrada, a criança ganha mais disposição e aprende, desde cedo, a fazer melhores escolhas. O que vai na lancheira ou no prato todos os dias importa mais do que parece.
A falta de movimento na rotina escolar
Se os adultos já sentem os efeitos de passar longas horas sentados, imagine as crianças. Com recreios curtos e aulas de educação física limitadas, o tempo de movimento na escola tem diminuído, e isso impacta diretamente o gasto de energia. Quando a brincadeira dá lugar ao sedentarismo, o corpo começa a armazenar mais do que gasta, favorecendo o ganho de peso.
E o problema não termina quando a aula acaba. Muitas crianças chegam em casa e passam o resto do dia no sofá ou no celular, reduzindo ainda mais as oportunidades de se movimentar.
Telas, sono e alimentação desregulada
A conexão entre telas e obesidade infantil vai além do tempo parado. O uso excessivo de dispositivos eletrônicos também atrapalha o sono, e dormir pouco desregula hormônios que controlam a fome e a saciedade. Quando isso acontece, é comum que a criança sinta mais vontade de comer alimentos calóricos, criando um ciclo difícil de quebrar.
Outro fator importante é a falta de organização dos horários de estudo e refeições. Pular refeições, ou comer lanches rápidos demais, contribui para padrões alimentares desregulados.
Estratégias para manter uma alimentação saudável na volta às aulas
Com o retorno à rotina escolar, a alimentação das crianças pode acabar ficando de lado diante da correria do dia a dia. Mas algumas atitudes simples ajudam a garantir refeições mais equilibradas e nutritivas, contribuindo para a saúde e o bem-estar infantil.
Como planejar lanches escolares mais nutritivos
Para que a lancheira seja equilibrada, é importante incluir diferentes grupos de alimentos. Um bom lanche deve conter:
- Fonte de proteína: ovo cozido, iogurte natural, queijo ou pastas de oleaginosas.
- Carboidratos de qualidade: pão integral, tapioca, bolos caseiros ou frutas secas.
- Fibras e vitaminas: frutas frescas, palitos de cenoura ou tomatinhos cereja.
- Bebida adequada: água ou suco natural sem adição de açúcar.
Evite alimentos ultraprocessados, como salgadinhos, biscoitos recheados e sucos artificiais. Eles oferecem poucos nutrientes e favorecem picos de glicose, aumentando a fome pouco tempo depois.
Incentivo à hidratação e redução do consumo de bebidas açucaradas
O consumo de bebidas adoçadas também influencia no aumento da obesidade infantil. Para melhorar a hidratação das crianças, algumas medidas podem ser adotadas:
- Enviar uma garrafa de água para a escola diariamente.
- Oferecer água saborizada com frutas para tornar o consumo mais atrativo.
- Ensinar a ler rótulos e identificar bebidas com alto teor de açúcar.
- Reduzir gradativamente o consumo de sucos prontos e refrigerantes.
O papel dos pais e da escola na educação alimentar
A alimentação saudável começa em casa, mas a escola também é parte integrante na formação dos hábitos alimentares das crianças. Algumas ações que fazem diferença:
- Incentivar as crianças a participarem do preparo dos lanches e refeições.
- Conversar sobre os benefícios dos alimentos nutritivos e equilibrados.
- Apresentar novos sabores e texturas de forma natural, sem forçar o consumo.
- Cobrar melhorias na merenda escolar e nas opções oferecidas na cantina.
Como incluir refeições equilibradas no dia a dia sem esforço
Criar hábitos saudáveis não precisa ser uma tarefa difícil. Pequenos ajustes na rotina ajudam a criar um ambiente alimentar favorável à saúde infantil:
- Planejar os lanches na noite anterior para evitar improvisos.
- Montar pratos coloridos e variados para garantir um bom aporte de nutrientes.
- Priorizar preparações caseiras, como bolos simples, pães integrais e biscoitos caseiros.
- Ter opções nutritivas sempre à mão, como frutas já lavadas, castanhas e queijos.
O papel das vitaminas infantis na nutrição
A alimentação é a principal fonte de vitaminas e minerais para as crianças, mas em alguns casos, o organismo pode não receber os nutrientes necessários na quantidade ideal. Deficiências nutricionais podem impactar o metabolismo, a energia e até mesmo o desenvolvimento infantil, e isso está diretamente ligado ao risco de obesidade.
Quando há uma alimentação inadequada ou dificuldades na absorção de nutrientes, o acompanhamento profissional pode indicar o uso de vitaminas infantis como um suporte nutricional.
Deficiências nutricionais e seu impacto no metabolismo infantil
Algumas deficiências são mais comuns na infância e podem influenciar o peso e o crescimento das crianças. Entre as principais, destacam-se:
- Vitamina D: níveis baixos estão associados ao aumento do risco de obesidade e à menor regulação do metabolismo.
- Ferro: essencial para a oxigenação do sangue e a energia diária, sua falta pode causar fadiga e impactar o aprendizado.
- Vitaminas do complexo B: fundamentais para a conversão dos alimentos em energia e para o desenvolvimento cognitivo.
- Zinco e magnésio: importantes para o crescimento, sistema imunológico e funcionamento muscular.
Obesidade infantil e deficiência de vitamina D
Estudos apontam que crianças com obesidade tendem a apresentar níveis mais baixos de vitamina D. Isso ocorre porque o excesso de gordura corporal pode reduzir a biodisponibilidade dessa vitamina no organismo.
A vitamina D é essencial para a saúde óssea, o metabolismo e o sistema imunológico. Sua deficiência pode resultar em:
- Maior acúmulo de gordura corporal.
- Redução da capacidade do corpo de regular a glicose.
- Impacto na disposição e na saúde óssea.
A principal fonte de vitamina D é a exposição solar, mas alimentos como peixes gordurosos, gema de ovo e laticínios fortificados também contribuem para seu aporte. Em casos de deficiência confirmada, um profissional de saúde pode indicar a suplementação.
Como escolher um suplemento seguro para crianças?
É importante optar por produtos de qualidade e adequados à faixa etária. Alguns critérios essenciais incluem:
- Composição completa e balanceada: deve fornecer os nutrientes essenciais sem ultrapassar as quantidades recomendadas.
- Forma de apresentação adequada: opções em gotas, pó ou gomas podem facilitar a aceitação pelas crianças.
- Ausência de açúcares e corantes artificiais: formulações mais naturais são preferíveis para evitar o consumo excessivo de aditivos.
- Recomendação profissional: um nutricionista ou pediatra deve avaliar o estado de saúde da criança e orientar corretamente o uso de vitaminas infantis.
Construindo um futuro mais saudável para as crianças
A obesidade infantil não é resolvida com grandes mudanças de uma só vez, mas sim com pequenos ajustes na rotina, que se acumulam ao longo do tempo. Melhorar a qualidade dos lanches, incentivar mais movimento, equilibrar o tempo de tela e garantir uma alimentação rica em nutrientes são passos importantes para a saúde das crianças.
Criar um ambiente mais saudável em casa e na escola é um esforço coletivo, que envolve pais, educadores e a comunidade. Avaliar os hábitos alimentares dos filhos, observar possíveis sinais de deficiências nutricionais e buscar orientação profissional quando necessário são atitudes que fazem a diferença.
Referências:
https://www.who.int/publications/i/item/WHO-NMH-NHD-14.6
Nilson, E. A. F., Ferrari, G., Louzada, M. L. C., Levy, R. B., Monteiro, C. A., & Rezende, L. F. M. (2023). Premature deaths attributable to the consumption of ultraprocessed foods in Brazil. American Journal of Preventive Medicine, 64(1), 129-136. https://doi.org/10.1016/j.amepre.2022.08.013
Peterson CA, Belenchia AM. Vitamin D deficiency & childhood obesity: a tale of two epidemics. Mo Med. 2014 Jan-Feb;111(1):49-53. PMID: 24645299; PMCID: PMC6179511.
https://www.sbp.com.br/imprensa/detalhe/news/pedcast-sbp-alimentacao-saudavel-na-escola/
https://www.gov.br/secom/pt-br/acesso-a-informacao/comunicabr/lista-de-acoes-e-programas/programa-nacional-de-alimentacao-escolar-pnae
https://abeso.org.br/bullying-nas-escolas-e-obesidade-infantil-baixe-o-nosso-guia-para-pais-e-educadores/
Bullying e obesidade infantil [livro eletrônico] : um guia para pais e educadores / organizado por Latife S. Tyszler, Louise Cominato, Mariana Del Bosco ; coordenação Lívia Lugarinho ; elaborado pelo Departamento de Obesidade Infantil ; edição Lúcia Helena de Oliveira. -- 1. ed. -- São Paulo : Vitamina Conteúdo, 2024. PDF
https://abeso.org.br/baixe-o-e-book-lancheira-saudavel/
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