Análogos de GLP-1 e fertilidade: o que você precisa saber antes de engravidar

Análogos de GLP-1 e fertilidade: o que você precisa saber antes de engravidar

Se você está tentando engravidar e enfrenta a obesidade e as comorbidades que ela traz, é comum sentir dúvidas sobre o que fazer primeiro. Manter um peso saudável pode impactar diretamente os hormônios, a ovulação e até o desenvolvimento do futuro bebê. Muitas mulheres que desejam ser mães notam como o excesso de peso pode atrasar esse sonho.

Entre os recursos mais modernos para tratar a obesidade estão os análogos de GLP-1 (como Ozempic, Wegovy ou Mounjaro), medicamentos que ajudam a controlar o apetite e a sensibilidade à insulina, contribuindo para o emagrecimento. Ao atuar nesses mecanismos, o corpo encontra o equilíbrio hormonal necessário para favorecer a fertilidade e aumentar as chances de uma gestação tranquila.

Contudo, esse caminho não deve ser percorrido sem orientação especializada. Buscar uma equipe de saúde multidisciplinar é essencial para definir como abordar o emagrecimento, avaliar a saúde nutricional e ajustar eventuais desequilíbrios hormonais. A obesidade é uma doença crônica que pode dificultar a concepção, mas, com o suporte adequado, é possível melhorar esse quadro.

O papel do GLP-1 na fertilidade

Quando falamos em análogos de GLP-1, estamos nos referindo a medicamentos que imitam a ação de um hormônio produzido pelo intestino, responsável por regular apetite, sensibilidade à insulina e até resposta inflamatória do organismo. Em mulheres que desejam engravidar, esse equilíbrio é fundamental para manter os níveis hormonais mais estáveis, favorecendo a saúde reprodutiva.

Como o GLP-1 age no corpo

  • Diminui o apetite: ao estimular a saciedade, ajuda na redução do consumo calórico e, consequentemente, na perda de peso.
  • Melhora a sensibilidade à insulina: importante em quadros de resistência insulínica, comuns em mulheres com sobrepeso, obesidade e Síndrome dos Ovários Policísticos (SOP).
  • Contribui para a regulação hormonal: menor inflamação e melhor metabolismo da glicose podem trazer reflexos positivos na produção de hormônios sexuais.

Por que a SOP é afetada pelo metabolismo?

A Síndrome dos Ovários Policísticos (SOP) está frequentemente associada a níveis elevados de insulina e hormônios andrógenos (masculinos), que dificultam a ovulação e desregulam os ciclos menstruais. Como os análogos de GLP-1 ajudam a equilibrar o metabolismo, seu uso pode trazer benefícios para quem tem SOP, como:

  • Redução dos hormônios andrógenos: o excesso de hormônios masculinos é um dos fatores que impedem a ovulação regular. Ao diminuir esses níveis, o corpo tende a restabelecer ciclos menstruais mais previsíveis.
  • Menos inflamação no organismo: muitas mulheres com SOP apresentam um estado inflamatório constante, que piora os sintomas. Como os análogos de GLP-1 melhoram o metabolismo, eles também podem reduzir a inflamação, ajudando a aliviar alguns dos efeitos da SOP.
  • Melhora da ovulação: a resistência insulínica é uma das principais causas da ausência de ovulação na SOP. Quando a insulina volta a ser processada corretamente pelo corpo, os ciclos ovulatórios se tornam mais frequentes, aumentando as chances de gravidez.

Com um metabolismo mais equilibrado, a SOP pode ser melhor controlada, tornando os sintomas menos intensos e melhorando a qualidade de vida da mulher.

Obesidade, fertilidade e análogos de glp-1

Necessidade de interromper o tratamento antes da gravidez

Por mais que os análogos de GLP-1 ofereçam vantagens para quem deseja equilibrar o peso e melhorar a fertilidade, eles não devem ser usados durante a gravidez.

Estudos feitos em animais indicam que os análogos de GLP-1 podem prejudicar o desenvolvimento do embrião, trazendo riscos como perda fetal e alterações na formação do bebê. Como não há pesquisas suficientes em gestantes para garantir a segurança desses medicamentos, eles não devem ser usados durante a gravidez. Em casos de mulheres que estejam planejando engravidar recomenda-se interromper o tratamento com a devida antecedência, pois essas substâncias permanecem no corpo por algum tempo após a última dose.

Riscos e contraindicações

Como todo tratamento farmacológico, os análogos de GLP-1 podem apresentar efeitos colaterais. Náuseas, vômitos, diarreia e desconforto abdominal estão entre os mais comuns, e costumam diminuir ao longo do uso. Em casos mais raros, pode haver alterações pancreáticas ou risco de hipoglicemia, especialmente se associados a outros medicamentos para diabetes.

Para quem planeja ser mãe, isso reforça a necessidade de um acompanhamento médico multidisciplinar: ginecologista para avaliar a fertilidade, endocrinologista para ajustar o controle de peso e, se necessário, outros profissionais que possam contribuir para uma transição segura quando for a hora de interromper o medicamento.

Essa abordagem cuidadosa evita riscos desnecessários e garante que a mulher possa se preparar fisicamente para uma gravidez mais saudável.

Obesidade e fertilidade: como o excesso de peso pode dificultar a concepção

A obesidade pode afetar diferentes aspectos da saúde, incluindo a fertilidade. Mulheres com sobrepeso ou obesidade podem enfrentar mais desafios para engravidar devido a alterações hormonais e metabólicas que influenciam a ovulação, a qualidade dos óvulos e até mesmo o sucesso de tratamentos como a fertilização in vitro (FIV). Além disso, a obesidade aumenta os riscos à saúde da mãe e do bebê durante a gestação.

  • Dificuldade para engravidar: mulheres com sobrepeso ou obesidade podem levar mais tempo para engravidar e apresentam maior risco de infertilidade.
  • Problemas na gravidez: o excesso de peso aumenta as chances de complicações como diabetes gestacional e pressão alta durante a gestação.
  • Menor taxa de sucesso em tratamentos de fertilidade: mulheres obesas podem ter menor resposta a tratamentos como a fertilização in vitro (FIV) em comparação com mulheres com peso dentro da faixa considerada saudável.
  • Sinais de alerta no ciclo menstrual: alterações como ciclos longos ou ausentes podem indicar problemas na ovulação e dificultar a concepção.
  • Desequilíbrios hormonais: o excesso de gordura interfere na produção de hormônios reprodutivos, afetando a ovulação e reduzindo a capacidade do útero de receber o embrião.
  • Inflamação e qualidade dos óvulos: a obesidade está associada a processos inflamatórios que comprometem a qualidade dos óvulos, tornando a fecundação e o desenvolvimento embrionário mais difíceis.
  • Impacto na saúde geral: além da fertilidade, a obesidade pode prejudicar o sistema cardiovascular, a saúde dos ossos e a mobilidade, além de afetar o bem-estar emocional da mulher.

Bariátrica, reganho de peso e fertilidade: como ficam os análogos de GLP-1?

Ao sofrerem por anos com tantas comorbidades, muitas mulheres recorrem à cirurgia bariátrica, e este é um passo enorme na luta contra a obesidade. Após esse procedimento é possível alcançar uma grande perda de peso e ter uma melhora significativa na saúde.

Com o passar do tempo, porém, pode ocorrer o reganho de peso, seja por alterações na rotina, retomada de hábitos antigos ou adaptações do próprio corpo. Nesse momento, os análogos de GLP-1 podem parecer uma nova solução para controlar o apetite — mas é preciso avaliar as implicações disso, especialmente se existe o desejo de engravidar no futuro.

Desafios nutricionais após a bariátrica

  • Absorção reduzida: a cirurgia altera o funcionamento do trato gastrointestinal, diminuindo a quantidade de nutrientes que o corpo consegue absorver.
  • Possível déficit de vitaminas, minerais e proteínas: a desabsorção pode causar deficiência de ferro, cálcio, vitamina B12 e outros elementos.

Onde entram os análogos de GLP-1?

  • Controle de apetite: esses medicamentos costumam reduzir significativamente a fome, o que facilita o controle do peso.
  • Risco de carências: se já existe dificuldade de absorção, comer menos pode agravar problemas nutricionais.
  • Impacto na fertilidade: para engravidar com segurança, o organismo precisa estar bem nutrido. Baixos níveis de vitaminas, proteínas ou minerais podem prejudicar a qualidade dos óvulos e a saúde do bebê.

Como equilibrar tudo isso e ainda pensar em engravidar?

  1. Avalie a real necessidade de usar GLP-1
    • Um endocrinologista pode orientar se o medicamento é mesmo indicado no seu caso de reganho de peso.
  2. Monitore o estado nutricional
    • Faça exames de sangue periódicos para verificar níveis de ferro, cálcio, vitamina D, B12 e proteínas.
    • Ajuste a suplementação e a dieta conforme orientado pela equipe de saúde.
  3. Planeje a gravidez
    • Se existe a vontade de ter um filho, certifique-se de que o corpo esteja com estoques adequados de nutrientes.
    • Pergunte ao médico sobre o prazo de interrupção do GLP-1 antes de engravidar, já que cada substância tem um tempo diferente de permanência no organismo.

Quando se trata de saúde reprodutiva e controle de peso após a bariátrica, não há solução única que sirva para todas. O mais importante é ter um planejamento que considere tanto o histórico da cirurgia quanto a necessidade de preservar o equilíbrio nutricional, para que a futura gestação aconteça de forma segura tanto para a mãe quanto para o bebê.

Obesidade, fertilidade e análogos de glp-1

Compreender os efeitos do GLP-1 na fertilidade ainda demanda mais pesquisas

Os análogos de GLP-1 têm despertado grande interesse na área da saúde reprodutiva, especialmente para mulheres com obesidade, resistência insulínica e síndrome dos ovários policísticos (SOP). Estudos recentes indicam que esses medicamentos podem auxiliar no controle do peso, na melhora da ovulação e no equilíbrio hormonal, fatores essenciais para quem deseja engravidar. No entanto, as pesquisas ainda estão em estágio inicial e precisam de mais aprofundamento para esclarecer totalmente seus efeitos na fertilidade.

Além disso, os análogos de GLP-1 também vêm sendo utilizados por mulheres que passaram por cirurgia bariátrica e estão enfrentando reganho de peso. Como esses medicamentos são contraindicados na gestação, o planejamento é essencial para garantir uma transição segura entre o tratamento e a tentativa de engravidar.

Para garantir uma gestação segura e bem planejada, o acompanhamento com endocrinologistas, ginecologistas e nutricionistas é indispensável. Cada caso é único, e uma abordagem personalizada é essencial para equilibrar controle de peso, saúde metabólica e fertilidade.

Referências

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Are GLP-1s the Newest Fertility Treatment? - Medscape - November 08, 2024. https://www.medscape.com/viewarticle/are-glp-1s-newest-fertility-treatment-2024a1000kfa

Silvestris E, de Pergola G, Rosania R, Loverro G. Obesity as disruptor of the female fertility. Reprod Biol Endocrinol. 2018 Mar 9;16(1):22. doi: 10.1186/s12958-018-0336-z. PMID: 29523133; PMCID: PMC5845358.

Obesidade, fertilidade e análogos de glp-1



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