Efeito sanfona: por que o reganho de peso tende a piorar com o tempo

Efeito sanfona: por que o reganho de peso tende a piorar com o tempo

Você emagrece, comemora o resultado, tenta manter a rotina e, em algum momento, a balança sobe de novo. Em muitos casos, o reganho de peso parece vir mais rápido e maior. A cada ciclo, fica mais difícil perder e mais fácil recuperar.

Isso não é “falta de força de vontade”: há uma explicação fisiológica consistente e entender como esse mecanismo funciona, ajuda a ajustar expectativas, rotinas e o acompanhamento profissional.

A base científica para este post vem de um estudo sobre o tecido adiposo branco humano (Arner & Rydén, 2021), que descreve como nossas células de gordura e seus lipídios se comportam ao longo da vida. A seguir, traduzimos esses achados para a prática.

O que realmente acontece com a gordura quando você emagrece

Quando perdemos peso, as células de gordura (adipócitos) encolhem, mas não desaparecem e nem reduzem a quantidade. Pense nelas como “balões” que murcham: o volume cai, o espaço interno diminui, só que o balão continua lá. É por isso que, se a rotina se desorganiza, há espaço pronto para reestocar.

Esse ponto parece simples, mas muda tudo. Durante a vida adulta:

  • O tecido adiposo é dinâmico: cerca de 10% dos adipócitos são renovados por ano.

  • O conteúdo de triglicerídeos (a “gota de gordura” dentro de cada célula) é trocado várias vezes: aproximadamente seis ciclos em dez anos.

Em outras palavras, não temos um “estoque fixo e parado” de gordura. Há renovação celular e troca de lipídios o tempo todo. Só que a forma como esse sistema funciona muda com o ganho e a perda de peso, e também com a idade.

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Número de células x tamanho: o ponto cego do efeito sanfona

Existem duas formas de aumentar a gordura corporal:

  1. Hipertrofia: poucas células, porém grandes.

  2. Hiperplasia: muitas e pequenas células.

Quando ganhamos peso, em adultos, tendemos a aumentar tanto o tamanho quanto o número de adipócitos. Quando perdemos peso, reduzimos principalmente o tamanho, não o número. É aqui que mora uma das explicações do efeito sanfona:

  • Com ciclos de ganho e perda, o número total de células pode subir ao longo dos anos.

  • Depois, ao emagrecer, você encolhe essas células, mas elas permanecem em maior quantidade. Uma espécie de patamar de referência do número de adipócitos que se eleva com o tempo.

  • Na primeira escorregada, muitas células vazias (mas presentes) reabastecem com facilidade. Resultado: o reganho pode ser rápido e, não raro, maior.

Isso ajuda a explicar por que, ao longo do tempo, cada nova perda parece mais trabalhosa: há mais “depósitos” prontos para armazenar gordura de novo.

O tempo joga contra: idade, lipólise e dinâmica dos lipídios

Outro componente forte da equação é o envelhecimento. O tecido adiposo não é apenas um “banco de energia”: ele capta e libera gordura o tempo todo. Para simplificar:

  • Entrada: quanto lipídio entra e é estocado na célula.

  • Saída: quanto lipídio sai graças à lipólise (a quebra de triglicerídeos).

Com a idade, ocorre uma queda na lipólise. Se a entrada não diminui na mesma medida, isto é, se o consumo diário não acompanha essa mudança , o balanço pende para armazenar, e o peso sobe com o passar dos anos. Na prática:

  • Pessoas com menor sensibilidade aos hormônios que estimulam lipólise tendem a ganhar peso no futuro e a piorar o controle glicêmico.

  • O corpo responde menos aos sinais que ativam a quebra de gordura, o que facilita o reganho.

Essa tendência natural do organismo não condena ninguém ao efeito sanfona, mas explica por que manter resultados exige planos consistentes, ajustados por profissionais e constância.

Onde a gordura fica também precisa ser considerado

Nem todo tecido adiposo se comporta do mesmo jeito. Pontos que merecem atenção:

  • Subcutâneo (logo abaixo da pele): já no sobrepeso, há sinais de piora na dinâmica de entrada e saída de lipídios.

  • Visceral (na cavidade abdominal, entre os órgãos): a piora significativa costuma aparecer na obesidade grave. Quando esse depósito está ativo, muito ácido graxo segue direto ao fígado. Isso pode desorganizar o controle metabólico do fígado e piorar marcadores cardiometabólicos.

Esse comportamento ajuda a entender por que a gordura abdominal está tão ligada a risco metabólico. Em cenários de efeito sanfona com acúmulo abdominal, o impacto tende a ser maior.

Por que o corpo favorece o reganho

Reunindo os pontos:

  • Perda de peso: encolhe as células, mas mantém a quantidade.

  • Ciclos de reganho: com o tempo, o número total de células sobe e permanece alto.

  • Envelhecimento: reduz a capacidade de quebrar gordura (lipólise).

  • Menor sensibilidade hormonal para estimular lipólise: prediz reganho e piora glicêmica.

  • Distribuição: depósitos de gordura visceral mais ativos  prejudicam o metabolismo.

O efeito sanfona reflete um conjunto de ajustes biológicos que, sem uma estratégia consistente de manutenção, tende a levar ao reganho de peso.

E após a cirurgia metabólica?

Em mulheres acompanhadas a longo prazo após cirurgia metabólica (bariátrica), observa-se um fenômeno relevante: os adipócitos ficam menores e liberam menos leptina do que em pessoas do mesmo peso que nunca foram obesas.

Leptina mais baixa significa sinais de saciedade menos intensos, o que pode favorecer ingestão maior. Somado a outras alterações hormonais intestinais, isso ajuda a entender por que a manutenção do peso requer vigilância contínua, mesmo com uma perda inicial expressiva.

Para quem passou (ou passará) por cirurgia, o recado é o mesmo, mas com ainda mais ênfase: acompanhamento multiprofissional, organização da rotina e adesão aos pilares de cuidado fazem diferença no médio e no longo curso.

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Como lidar no dia a dia

1) Estruture a manutenção desde o primeiro quilo perdido

O período pós-emagrecimento não é “piloto automático”. Preveja rotinas realistas: plano alimentar que caiba na sua vida, agenda de treino, estratégias de sono e controle do estresse. Ajustes pequenos e consistentes costumam render mais do que soluções radicais.

2) Dê visibilidade ao que funciona para você

Diário alimentar, registro simples de treinos e de sono, metas factíveis. A ideia não é vigiar-se o tempo todo, e sim reconhecer padrões: o que empurra você para longe da rotina? Onde é possível agir antes?

3) Organize o ambiente

O ambiente decide muito: compras, planejamento semanal, escolhas em restaurantes e eventos previstos. Facilitar o acesso a boas opções aumenta adesão.

4) Cuide do sono e do estresse

Privação de sono e estresse elevado modulam fome, saciedade e escolhas. Coloque o descanso na planilha como prioridade.

5) Treine de forma consistente

Treino regular melhora a sensibilidade aos sinais que ativam lipólise no tecido adiposo, favorece a quebra de gordura e ajuda a manter a massa magra. Níveis moderados, bem distribuídos na semana, funcionam melhor do que picos esporádicos.

6) Acompanhamento psicológico e saúde mental

Lidar com o tratamento da obesidade e o emagrecimento saudável envolve saúde mental. Psicoterapia pode oferecer ferramentas para manejar comportamentos alimentares, gatilhos emocionais, ansiedade e recaídas, além de auxiliar no reconhecimento de padrões de fome emocional. 

Em situações específicas, transtornos alimentares podem estar presentes e exigem avaliação e condução especializada. Temos um conteúdo dedicado ao tema da mente e reganho: Mente obesa e reganho de peso. Vale a pena complementar a leitura.

7) Suplementação certa pode apoiar

Para muitas pessoas, os suplementos facilitam a constância: aporte proteico adequado para preservar massa magra, correção de micronutrientes com lacunas identificadas, entre outros. Cada caso é um caso. Busque avaliação individualizada.

8) Não subestime o acompanhamento multiprofissional

A presença do nutricionista, médico, educador físico e psicólogo ajuda a ajustar a rota cedo, antes que um tropeço vire um ciclo completo de reganho.

Checklist prático para autoavaliação

  • Tenho horários de refeições minimamente previsíveis?

  • Consigo atingir proteína diária na maioria dos dias?

  • Estou treinando com regularidade?

  • Como está meu sono (horário e qualidade)?

  • Quais foram os gatilhos dos últimos deslizes e o que posso preparar antes para contorná-los?

  • Quais profissionais devo priorizar para o meu acompanhamento ?

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Perguntas frequentes

Se eu emagrecer muito, minhas células de gordura somem?

O que ocorre é principalmente redução do tamanho das células, não do número. O corpo mantém um estoque de “depósitos” prontos para serem usados. Por isso a manutenção é tão importante quanto a fase de perda.

Por que recupero peso tão rápido?

Porque existem muitas células ainda presentes, agora vazias. Elas são reabastecidas com facilidade quando a rotina desanda. Em paralelo, com o tempo, a capacidade de ativar a quebra de gordura cai, e algumas pessoas têm menor sensibilidade aos hormônios que estimulam lipólise, quadro que favorece o reganho de peso.

O envelhecimento atrapalha o emagrecimento?

Torna o processo mais desafiador. A lipólise tende a cair com a idade; se a entrada de energia na célula não diminui, o balanço passa a favorecer o armazenamento. Isso não torna a perda impossível, apenas reforça a necessidade de planos consistentes e ajustes finos.

Gordura intra-abdominal é pior do que em outras regiões?

A gordura visceral tem um comportamento que afeta o fígado de forma direta, o que pode agravar indicadores metabólicos. Por isso, a circunferência abdominal é um sinal de alerta importante.

Há como ajudar a lipólise?

Há como favorecer, sim, com treino regular, sono adequado, manejo de estresse, alimentação organizada e acompanhamento profissional. Suplementos e estratégias nutricionais específicas, podem ajudar na adesão. Procure avaliação individual.

Constância para superar ciclos de reganho de peso

O efeito sanfona tem explicação biológica. Com o tempo, o número de células de gordura tende a subir nos ciclos de ganho e perda, a capacidade de ativar a quebra de gordura diminui e a distribuição abdominal pode amplificar o impacto metabólico.

Ao termos isso em mente fica mais claro por que manter hábitos e ajustar cedo os pequenos deslizes, vale tanto quanto perder os primeiros quilos.

Cuidar da manutenção é cuidar da saúde e melhor ainda quando tudo isso é acompanhado por profissionais que entendem a sua rotina e os seus objetivos.

Aviso importante

Este conteúdo tem caráter informacional e não substitui a avaliação individualizada. É fundamental consultar um profissional de saúde antes de mudanças na alimentação, treino, uso de suplementos ou início de psicoterapia.

Referências

Arner P, Rydén M. Human white adipose tissue: A highly dynamic metabolic organ. J Intern Med. 2022 May;291(5):611-621. doi: 10.1111/joim.13435. Epub 2022 Jan 16. PMID: 34914848.

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